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https://doi.org/10.30972/clt.258026

CLRELyL 25 (2024). ISSN 2684-0499


ALTERNÂNCIA MORFOFONOLÓGICA EM P4 DE VERBOS REGULARES DE PRIMEIRA CONJUGAÇÃO NO NOROESTE PAULISTA

Morphophonological Alternation in P4 of Regular Verbs of First Conjugation in São Paulo Northwest

Brenda Soares Rezende*

Universidade Estadual de Ponta Grossa

brendarznd@gmail.com

Márcia Cristina do Carmo**

Universidade Estadual de Ponta Grossa

mccarmo@uepg.br

Álvaro Kasuaki Fujihara***

Universidade Estadual de Ponta Grossa

akfujihara@uepg.br

Recibido: 30/09/2024 - Aceptado: 10/11/2024

Resumo

Este artigo analisa a alternância morfofonológica em P4 de verbos regulares de primeira conjugação do modo indicativo no interior paulista, como em estud[ə̃]mos ~ estud[ẽ]mos. Fundamentado na Teoria da Variação e Mudança Linguística (Labov, 2008 [1972]) e em estudos sobre esse fenômeno em outras variedades do Português Brasileiro (Pereira, 2014, 2021; Pereira; Margotti, 2018; Pereira; Lehmkuhl-Coelho; Loregian-Penkal, 2016; Zilles; Maya; Silva, 2000), a pesquisa analisou 32 entrevistas do banco de dados Iboruna (Projeto ALIP – Gonçalves, 2024 [2007]). A análise foi realizada com o programa estatístico Goldvarb X (Sankoff; Tagliamonte; Smith, 2024 [2005]). As variáveis investigadas foram: (i) sexo/gênero; (ii) faixa etária; (iii) escolaridade; (iv) tempo verbal; (v) apagamento do -s final da DNP /mos/; (vi) assertividade da sentença; (vii) realização de sujeito; e (viii) presença de elemento temporal. Como resultado, verificou-se baixa produtividade de -emo(s), prevalente em homens com escolaridade baixa, no pretérito perfeito, sem outros marcadores temporais na sentença ou -s final.

Palavras-chave: teoria e análise linguística; variação e mudança linguística; variação morfofonológica; Português Brasileiro

Abstract

This paper analyzes the morphophonological alternation in the first person plural of indicative mood regular verbs with the first conjugation in paulista countryside, e.g. estud[ə̃]mos ~ estud[ẽ]mos (‘we study’/‘we studied’). Based on the Linguistic Variation and Change Theory (Labov, 2008 [1972]) and on studies on this phenomenon in other varieties of Brazilian Portuguese (Pereira, 2014, 2021; Pereira; Margotti, 2018; Pereira; Lehmkuhl-Coelho; Loregian-Penkal, 2016; Zilles; Maya; Silva, 2000), 32 interviews from the Iboruna database were examined (ALIP Project – Gonçalves, 2024 [2007]). Goldvarb X statistical program (Sankoff; Tagliamonte; Smith, 2024 [2005]) investigated the following variables: (i) sex/gender; (ii) age group; (iii) level of education; (iv) verb tense; (v) deletion of final -s of /mos/; (vi) sentence assertiveness; (vii) subject realization; and (viii) presence of a temporal element. The results demonstrated low productivity of -emo(s), prevalent in lower educated male speakers’ speech, in the past perfect tense with no markers in the sentence nor final -s.

Keywords: linguistic theory and analysis; linguistic variation and change; morphophonological variation; Brazilian Portuguese

Alternância morfofonológica em P4 de verbos regulares de primeira conjugação no noroeste paulista

1. Introdução

O presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa de Iniciação Científica,1 que analisa linguisticamente a alternância morfofonológica em P4 de verbos regulares de primeira conjugação, como em cheg[ə̃]mos2 ~ cheg[ẽ]mos, no modo indicativo do Português Brasileiro (doravante, PB).

Inicialmente, Pereira, Lehmkuhl-Coelho e Loregian-Penkal (2016, p. 503) afirmam que:

pelo fato de observarmos algumas obras que tratam de variações linguísticas em outras regiões do Brasil e do Paraná e não encontrarmos indícios desse tipo de variação, podemos considerar que esta região sudeste do Paraná parece apresentar esse tipo de variação com expressividade e pode se tratar de uma marca linguística da mesorregião.

Posteriormente, para verificar se o processo ocorria em localidades além do sudeste do Paraná e utilizando cartas linguísticas do Atlas Linguístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil (ALERS), Pereira e Margotti (2018, p. 247) analisaram as variantes canônicas e não-canônicas relativas ao fenômeno com o verbo “ficar” na primeira pessoa do plural no modo indicativo e afirmaram que esse processo variável corresponde a “um fenômeno não isolado, peculiar à fala rural brasileira, isto é, difuso por toda a região Sul e, talvez, por todas as áreas rurais do restante do Brasil”.

Trata-se, portanto, de um fenômeno bastante difundido e que alcança diferentes regiões do país. A presente pesquisa, contudo, se atém a analisar o fenômeno na variedade do interior paulista, mais precisamente na região noroeste do estado, à luz da Teoria da Variação e Mudança Linguística (Labov, 2008 [1972]). Esse recorte se dá, por um lado, pela facilidade de acesso aos dados provida pelo banco de dados Iboruna (Gonçalves, 2024 [2007]) e, por outro, pela ausência de estudos sobre esse fenômeno na variedade em questão.

A variação estudada consiste na troca da vogal temática [ə̃] pela realização média-alta [ẽ] ([ə̃]mos ~ [ẽ]mos) (Svobodová, 2017). A ocorrência desse fenômeno tem origem na necessidade de demarcar oralmente a diferença entre os verbos da primeira conjugação do presente e do pretérito perfeito do modo indicativo, uma vez que apresentam a mesma pronúncia (Pereira, 2014), conforme será detalhadamente explicado na próxima seção.

Desse modo, o objetivo geral deste estudo é analisar as motivações linguísticas e extralinguísticas para a variação morfofonológica na P4 na fala espontânea da população do noroeste do estado de São Paulo. Especificamente, o estudo propõe: (i) descrever os fatores linguísticos e extralinguísticos que favorecem ou desfavorecem a aplicação do fenômeno; e (ii) comparar o fenômeno na variedade do interior paulista e em outras variedades do PB, a partir de estudos já realizados.

A hipótese inicial era a de que esse processo fosse estigmatizado, sendo mais recorrente no falar de pessoas formadas nos níveis escolares mais iniciais e do sexo/gênero masculino. Isso se justificaria pelo fato de as mulheres costumarem se ater à forma prestigiada, possivelmente como estratégia para preencher certos espaços ainda não alcançados socialmente (Labov, 2008 [1972]). Também era esperado que o processo fosse um caso de variação estável, estando presente nas quatro faixas etárias estudadas: (i) de 16 a 25 anos; (ii) de 26 a 35 anos; (iii) de 36 a 55 anos; e (iv) acima de 55 anos. No que se refere às hipóteses iniciais referentes às variáveis linguísticas, considerava-se que o tempo verbal seria relevante para a ocorrência da variação.

O presente artigo está estruturado da seguinte maneira: na seção 2, é apresentada a fundamentação teórica, baseada na Teoria da Variação e Mudança Linguística (Labov, 2008 [1972]) - (item 2.1) e na descrição morfofonológica do fenômeno (item 2.2) e de suas características em outras variedades do PB (item 2.2.1); na seção 3, são apresentados os materiais e métodos e, em 4, os dados são expostos. Os resultados são discutidos no item 5, seguidos pelas conclusões na seção 6 e, posteriormente, pelas referências bibliográficas.

2. Fundamentação teórica

Nesta seção, são apresentados: (i) a Teoria da Variação e Mudança Linguística (Labov, 2008 [1972]), que embasa esta pesquisa (seção 2.1); (ii) o fenômeno variável investigado (seção 2.2); e (iii) a descrição do fenômeno com relação a outras variedades do PB (seção 2.2.1).

2.1. Teoria da Variação e Mudança linguística

A Sociolinguística é um ramo da linguística que analisa os processos ocorridos na língua com relação às dinâmicas da sociedade, pois “não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança linguística sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre” (Labov, 2008 [1972], p. 21). A união desses dois aspectos (língua e sociedade) para o desenvolvimento de uma metodologia tem origem na noção de que as variações e mudanças linguísticas são características inerentes das línguas (Weinreich; Labov; Herzog, 2006 [1968]).

Sociolinguística, então, é a parte da Linguística que se preocupa com a língua(gem) como um fenômeno social e cultural. Investiga o campo da língua(gem) e sociedade e tem conexões estreitas com as ciências sociais, especialmente a psicologia social, antropologia, geografia humana e sociologia. (Trudgill, 2000, p. 21, tradução nossa)3

Trudgill (2000) afirma, por exemplo, que a diferenciação linguística entre sexos/gêneros se dá porque a língua(gem) é um fenômeno social e, portanto, atrelada a atitudes sociais. Conforme atesta o autor, isso é resultado do fato de muitas vezes homens e mulheres apresentarem diferentes papéis na sociedade, a qual espera, deles, diferentes padrões comportamentais. Nesse sentido, Labov (2008 [1972], p. 281-282) atesta que,

na fala monitorada, as mulheres usam menos formas estigmatizadas do que os homens [...] e são mais sensíveis do que os homens ao padrão de prestígio [...] Mesmo quando usam as formas mais extremas de uma variável sociolinguística em avanço em sua fala casual [...], as mulheres se corrigem mais nitidamente do que os homens nos contextos formais.

Não obstante, possíveis mudanças já verificadas nos papéis sociais de homens e mulheres podem alterar/diminuir essa diferença linguística entre sexo/gênero (Trudgill, 2000).

Observando esse tipo de relação entre língua e sociedade, Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]) determinaram o conceito de “heterogeneidade ordenada”. Isso quer dizer que os processos de variação e mudança existem e todas as formas consideradas “inadequações” ou “desvios” não possuem motivações aleatórias, pois a “estrutura linguística inclui a diferenciação ordenada dos falantes e dos estilos através de regras que governam a variação na comunidade de fala” (Weinreich; Labov; Herzog, 2006 [1968], p. 125). Essas “regras” correspondem aos condicionantes sociais e linguísticos que influenciam os processos variáveis e também comprovam que tais processos não estão coexistindo de forma livre.

Por conta dessa heterogeneidade, o objeto de estudo da sociolinguística é o “vernáculo do falante”, isto é, a língua a qual o falante não se atém às convenções gramaticais da norma culta e coloca mínima atenção ao modo como está comunicando (Labov, 2008 [1972]). Centralizar os estudos no vernáculo é de interesse da sociolinguística, pois é “onde as relações fundamentais que determinam o curso da evolução linguística podem ser vistas mais claramente” (Labov, 2008 [1972], p. 244) e é o que vai fornecer “dados mais sistemáticos para a análise da estrutura linguística” (Labov, 2008 [1972], p. 244). Assim, o foco está na língua utilizada em contextos informais no cotidiano e tal objetivo impossibilita a separação dos estudos de uso da língua e de contextos sociais, pois estudos linguísticos que abstraem das particularidades do uso real não permitem capturar as realidades linguísticas da sociedade tão heterogênea (Labov, 2008 [1972]).

No que se refere à classificação, as variantes podem ser padrão/não padrão; conservadoras/inovadoras; estigmatizadas/de prestígio (Tarallo, 2003). Essa classificação expõe a relação de concorrência entre as variantes, na qual acabam muitas vezes “competindo” por sua existência.

Em relação à mudança linguística, seu status pode ser detectado de acordo com estudos em tempo real e em tempo aparente. Estudos em tempo real se dão a partir de observações de populações similares no decorrer dos anos e são relativamente raros, por demandarem (i) um longo período de tempo para sua execução; e (ii) o retorno à comunidade para a condução de um estudo comparativo a partir dos mesmos métodos (Chambers, 2009). Por sua vez, estudos em tempo aparente conduzem, simultaneamente, entrevistas com sujeitos de faixas etárias distintas e as diferenças em seus comportamentos linguísticos são assumidas como análogos temporais. Conforme Chambers (2009, p. 207, tradução nossa) destaca,

os estudos em tempo aparente têm a vantagem inestimável de disponibilizar informações sobre desenvolvimentos temporais em um tempo mais curto do que esses desenvolvimentos. As inferências são geralmente confiáveis [...]. Já que não resultam de observação direta, no entanto, essas inferências dependem da validação de uma hipótese particular, a saber, que o uso linguístico de certa faixa etária permanecerá essencialmente o mesmo para esse grupo conforme envelhece.4

Por considerar diferentes faixas etárias, como será apresentado na seção 3, esta pesquisa corresponde a um estudo em tempo aparente da alternância morfofonológica em P4 de verbos regulares de primeira conjugação, fenômeno mais detalhadamente explicado na próxima seção.

2.2. Alternância morfofonológica em P4

Como já mencionado, este estudo focaliza a variação presente em verbos regulares de primeira conjugação em determinada variedade do PB. A estrutura do verbo na língua portuguesa é representada por Câmara Júnior (2007 [1970], p. 104; 2002 [1971], p. 67) de acordo com a seguinte fórmula:

T (R + VT) + SF (SMT + SNP)

O tema (T) do verbo engloba o radical (R) e a vogal temática (VT) da conjugação correspondente. Segundo o autor, o R corresponde à parte invariável constituída por um morfema lexical, acrescido ou não de morfema(s) derivacional(is), que carrega a informação lexical do verbo. Por sua vez, a VT é a responsável por colocar os verbos em determinada classe morfológica, a conjugação. Assim, para o autor, há verbos de VT -a- (1ª conjugação), -e- (2ª conjugação) e -i- (3ª conjugação). Sobre a VT da primeira conjugação, foco desta pesquisa, Câmara Júnior (2002 [1971]) aponta que apresenta, como variantes, -e- e -o- em, respectivamente, P1e P3 no pretérito perfeito do indicativo, como em amei e amou.

Já o sufixo flexional (SF) engloba o sufixo modo-temporal (SMT) e o sufixo número-pessoal (SNP), sobre os quais o autor aponta:

Figuram duas noções muito diferentes que se completam para flexionar o vocábulo verbal.

Uma, para designar o “tempo”, ou ocasião da ocorrência do que o verbo refere, do ponto de vista do momento da comunicação. A outra, que se lhe segue, indica, dentro do vocábulo verbal, a pessoa gramatical do sujeito. No sufixo flexional de tempo verbal, há acumulação da noção de “modo” (indicativo, subjuntivo, imperativo), e, num tempo do pretérito, a do aspecto inconcluso, ou “imperfeito”, do processo verbal referido. Por sua vez, a flexão de pessoa gramatical implica, automaticamente, na indicação do número, singular ou plural, do sujeito. (Câmara Júnior, 2007 [1970], p. 85-86)

Na pesquisa conduzida neste trabalho, investiga-se especificamente a variação morfofonológica ocorrida na vogal temática em P4, isto é, na primeira pessoa do plural.5 De acordo com Câmara Júnior (2002 [1971]), o SMT do presente do indicativo e no pretérito perfeito do indicativo corresponde a zero6 e o SNP de P4 é /mos/ átono final em todos os tempos verbais.7 Sendo assim, formas como andamos e cantamos podem se referir tanto ao presente quanto ao pretérito perfeito do indicativo. Por apresentarem a mesma pronúncia, é comum os falantes marcarem a distinção entre passado e presente com a troca da vogal temática (Pereira, 2014). Segundo Svobodová (2017, p. 188):

A motivação para alterações particularmente nesta pessoa verbal parece lógica, dado que a 1.ª ps. pl. do presente do indicativo ou pretérito perfeito simples do indicativo representam formas verbais bastante problemáticas já na própria norma padrão. As formas verbais neste caso são graficamente idênticas [...].

Observam-se, a seguir, alguns exemplos:

(1) Nós pass[ə̃]mos (sempre)

(2) Nós pass[ə̃]mos (ontem)

Nas frases listadas, o verbo está conjugado no presente (1) e no pretérito perfeito do indicativo (2), mas não há nenhuma marca na forma linguística do vocábulo passamos que distinga essa diferença temporal. Sendo assim, conforme Pereira (2014), a troca da vogal temática evita essa ambiguidade, como no exemplo:

(3) Nós pass[ẽ]mos (ontem)

Pereira (2021) defende que a alternância resulta de um processo de analogia, como no caso do verbo falar na primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo falei condicionando a formação de falemos, influenciando o paradigma do pretérito perfeito dos verbos regulares.

Esse processo é apontado por Amaral (2020 [1920], p. 64), que afirma que, no pretérito perfeito do indicativo de verbos de primeira conjugação, “a tônica muda-se em e”, como nos seguintes exemplos fornecidos pelo autor: trabaiêmo (para trabalhamos) e caminhêmo (para caminhamos).

Segundo Zilles, Maya e Silva (2000, p. 216), “[...] pode-se supor que, não fosse a escola preservar a forma padrão de concordância com -mos, o emprego das formas não-padrão poderia ser ainda mais acentuado”.

Passa-se, a seguir, à descrição desse processo variável em outras variedades do PB.

2.2.1. O processo variável investigado em outras variedades do PB

As pesquisas relacionadas à primeira pessoa do plural, em grande parte, adotam como variável dependente a alternância entre nós ~ a gente ou a variação no uso da concordância do plural (Foeger, 2014; Rúbio; Gonçalves, 2012), enquanto a variação da vogal temática costuma ser analisada como variável independente interna. Logo, trabalhos que especificam a alternância de [ə̃] para [ẽ] ainda são pouco registrados no PB. Alguns estudos sobre o tema são elencados nesta seção.

Costa (1990), em sua pesquisa, analisou a produção dos verbos na fala dos camponeses descendentes de italianos em uma zona rural do município de Ijuí, no Rio Grande do Sul. A análise focalizou mais de um tipo de variação que ocorre nos verbos, e um deles é a variação foco deste artigo, com as variantes -amos ~ -amo ~ -emo, definidas pela autora como essencialmente de motivação morfológica. O objetivo central da pesquisa foi analisar se as características comuns do português falado nessa comunidade de fala teriam tido influência do italiano, idioma falado na região pelas gerações anteriores. Para tanto, em pesquisa de campo, a autora teve contato com 30 famílias, o que proporcionou o registro de 27 entrevistas para análise. Quanto aos fatores sociais, o trabalho determinou a investigação de (i) sexo/gênero; (ii) idade; (iii) grau de instrução; (iv) extensão da propriedade; (v) mecanização do trabalho; e (vi) conforto da residência. Os resultados mostraram relação da forma -emo com o dialeto vêneto, já que é uma marca da região noroeste do estado possuir o contato interdialetal. A variante não canônica ocorreu em 54,3% das ocorrências, sendo a maioria no pretérito.

Por sua vez, Pereira (2014) investigou a variação morfofonológica na primeira pessoa do plural no presente e no pretérito do modo indicativo na fala de informantes de alguns bairros da cidade de Florianópolis, a partir da utilização do banco de dados VARSUL. As variáveis sociais analisadas foram: (i) sexo/gênero (masculino e feminino); (ii) localidade (Rantones e Santo Antônio da Lisboa e Costa da Lagoa); (iii) escolaridade (Ensino Superior e Ensino Fundamental); (iv) idade (mais velhos e mais jovens). As variáveis linguísticas averiguadas foram: (v) assertividade da sentença (sentença afirmativa ou negativa); (vi) realização do sujeito (explícito ou nulo); (vii) tempo verbal (pretérito perfeito ou presente); (viii) apagamento do -s final da DNP /mos/ (apagado ou não apagado); e (ix) elemento temporal (presença ou não). Os resultados da autora contaram com 30 dados, que demonstraram que a produção da forma não canônica pode estar relacionada aos níveis mais baixos de escolarização dos informantes. Os resultados também mostraram que, apesar de a variação ocorrer em ambos os tempos verbais, as formas no pretérito demonstram impulsionar a forma não canonizada, assim como o apagamento do -s final da DNP /mos/.

Em Pereira, Lehmkuhl-Coelho e Loregian-Penkal (2016), o processo analisado foi o mesmo e os objetos foram, além da troca de /a/ por /e/, a troca de /e/ por /i/. A metodologia foi qualitativa e utilizou dados de fala do banco de dados VARLINFE e de escrita do acervo das cidades de Irati e Mallet da região sudeste do Paraná. A amostra foi composta tanto por textos orais (uma entrevista de cada município retirada do banco de dados) e textos escritos (documentos, diários e depoimentos) e, além de contar com diferentes modalidades e gêneros discursivos, também se dividiu quanto a estilo (formal e informal) e período (início do século XX e início do século XXI). Os grupos de fatores linguísticos analisados na pesquisa foram: (i) apagamento ou não do -s final da DNP /mos/; (ii) tempo verbal (presente e pretérito perfeito); e (iii) conjugação verbal (1ª ou 2ª conjugação). Os resultados dessa pesquisa mostraram mais produtividade do processo do que a pesquisa anterior e, diferentemente dela, considerou que o apagamento do -s final da desinência, fator comum na fala e escrita do vernáculo rural, não é um condicionador da forma não-canônica. Os resultados também evidenciaram que a forma não canônica em verbos de segunda conjugação ficou restrita a textos escritos do tipo informal, indicando a possibilidade de representação de marcas de oralidade, já que em documentos escritos de registro mais formal não foram encontradas ocorrência da forma não-canônica. Esse resultado demonstra a tendência que o processo variável estudado tem de estar relacionado com a oralidade e com níveis menores de formalidade. Outra consideração feita no trabalho foi o fato dessa variação parecer ser característica da mesorregião do interior do Paraná.

Já Pereira e Margotti (2018) fazem um levantamento diatópico do uso variável da forma verbal em questão na região sul do Brasil. O córpus analisado foi a carta linguística n. 83 do Atlas Linguístico-etnográfico da Região Sul do Brasil (ALERS), que registra o item lexical ficar; portanto, as variantes foram: ficamos, ficamo, fiquemos e fiquemo. Os resultados obtidos confirmaram suas hipóteses iniciais de que as variantes não canônicas ficamo, fiquemos e fiquemos carregam um traço mais rural e menos urbano do que a variante canônica ficamos.

Pereira (2021), em sua tese de doutorado, investiga a alternância vocálica não-padrão antecedente a DNP em 1ª pessoa do plural em verbos de 1ª e 2ª conjugações. A metodologia utilizou como córpus de pesquisa o banco de dados VARLINFE, com a categorização dos informantes sendo: (i) sexo (feminino e masculino); (ii) faixa etária (até 50 anos e mais de 50 anos); e (iii) escolaridade (1 a 4 anos de escolarização, 5 a 8 anos de escolarização e 9 a 11 anos de escolarização); além de (iv) etnia (mista eslava, polonesa, eslava com outras, ucraniana), ademais, outros condicionadores externos investigados foram: (v) diatopia (Irati, Rio Azul, Cruz Machado, Prudentópolis, Ivaí, Mallet, Rebouças); (vi) nível de bilinguidade (grau I, grau II, grau III); (vii) ocupação; (viii) grau de etnicidade (grau I, grau II, grau III); (ix) grau de mobilidade (baixa, média, alta); e (x) grau de localismo (pouco integrado, mais ou menos integrado e bem integrado). Já as variáveis linguísticas investigadas foram: (xi) produção fonética da vogal ([ɐ͂], [a], [e], [ɛ] e [i]); (xii) grau de ruralidade (baixo, médio e alto); (xiii) realização do sufixo PN (/mos/ e /mo/); (xiv) tempo-modo-aspecto (presente do indicativo e pretérito perfeito do indicativo); e (xv) item lexical. Os resultados da autora mostraram uma ocorrência geral de 1.858 dados de verbos de 1ª e 2ª conjugação, sendo 1.631 (88%) de 1ª conjugação e 227 (12%) de 2ª conjugação. Com relação aos dados de 1ª conjugação, dos 1.631 dados, 900 foram da variante canônica (55,2%) e 731 da variante não-canônica (44,8%). Os resultados indicaram um uso significativo da forma não-canônica, frequente em contexto de uso do sufixo /mo/ e pretérito perfeito do indicativo e por grupos sociais caracterizados por serem falantes de Irati, com menor nível de escolaridade e alto grau de ruralidade.

Por fim, Zilles, Maya e Silva (2000), diferentemente das pesquisas anteriores, estudam a variação da VT como uma variável independente para o estudo da variação na desinência número-pessoal em primeira pessoa do plural. Os autores utilizaram o banco de dados VARSUL e investigaram os municípios de Panambi e Porto Alegre. As variáveis sociais consideradas foram: (i) escolaridade (primário e segundo grau); (ii) sexo (feminino e masculino); (iii) idade (mais de 50 anos e menos de 50 anos); e (iv) comunidade (Panambi e Porto Alegre). Já as linguísticas foram: (i) conjugação do verbo (primeira, segunda e terceira conjugação); (ii) tempo e modo verbal (indicativo, subjuntivo, imperativo, infinitivo e perífrase); (iii) realização do sujeito (pronome nós explícito, nulo e sintagma nominal); (iv) estrutura verbal (simples e composta); (v) tipo de discurso (reportado e não-reportado); (vi) contexto seguinte (vogais, consoantes e pausas); (vii) posição do sujeito em relação ao verbo (posposição, anteposição direta, distância entre sujeito e verbo de uma a três sílabas e distância entre sujeito e verbo de mais de três sílabas); (viii) alternância da vogal temática ([ə̃] e [ẽ]); e (ix) posição do acento no verbo (proparoxítona e paroxítona). Os resultados mostraram um peso relativo de 0.93 para a relação do apagamento do -s final da DNP com a forma -emos, que ocorreu em 95% dos casos. Em contrapartida, os resultados dos autores não confirmam a influência dos verbos no pretérito para a forma não-canônica.

3. Material e métodos

Como córpus de pesquisa, foram utilizadas entrevistas retiradas do banco de dados Iboruna, resultado do Projeto Amostra Linguística do Interior Paulista (ALIP - Gonçalves, 2024 [2007], FAPESP - Processo 03/08058-6), que coletou amostras de fala espontânea na região de São José do Rio Preto, no noroeste paulista, no período compreendido entre 2003 e 2007 (Gonçalves, 2019). O banco conta com dois tipos de amostras: (i) Amostra Censo ou Comunidade (AC), que engloba 152 entrevistas sociolinguísticas; e (ii) Amostra de Interação (AI), que apresenta 11 gravações com interação dialógica em contextos de interação social livres e gravadas secretamente (Gonçalves, 2019).

Nesta pesquisa, foram utilizados 32 inquéritos retirados da AC, por ser aquela que controla variáveis sociais, como sexo/gênero, escolaridade e faixa etária. Cada entrevista contém diferentes tipos de textos extraídos dos informantes, como: narrativa de experiência pessoal (NE); narrativa recontada de fatos que ouviram e que ocorreram com terceiros (NR); texto descritivo de locais ou ambientes (DE); relato de procedimento de atividades que exigem um ordenamento (RP); e relato de opinião de temas diversificados (RO) (Gonçalves, 2019).

As 32 entrevistas analisadas são resultado da consideração de 2 sexos/gêneros, 4 faixas etárias e 4 escolaridades (2 x 4 x 4 = 32), variáveis extralinguísticas descritas a seguir.

O sexo/gênero foi analisado com o objetivo de investigar possíveis diferenças na aplicação do fenômeno no falar feminino e masculino, uma vez que, como já mencionado, as mulheres tendem a se aproximar das formas mais prestigiadas (Labov, 2008 [1972]) por ainda precisarem conquistar espaços sociais historicamente concedidos aos homens.

Já as faixas etárias estudadas foram: de 16 a 25 anos; de 26 a 35 anos; de 36 a 55 anos; e superior a 55 anos. O objetivo foi determinar, por um estudo em tempo aparente, se a variável se encontra em um estado de variação estável ou de mudança em progresso (Labov, 2008 [1972]).

As escolaridades estudadas foram: 1º ciclo do Ensino Fundamental; 2º ciclo do Ensino Fundamental; Ensino Médio; e Ensino Superior. O objetivo foi constatar se a variável apresenta indícios de ser estigmatizada na variedade do interior paulista. O quadro 1, a seguir, exibe os inquéritos que serviram como córpus desta pesquisa:

Quadro 1

Inquéritos analisados

Faixa etária Escolaridade Sexo/gênero
Masculino Feminino
De 16 a 25 anos 1º Ciclo EF 031 032
2º Ciclo EF 039 040
Ensino Médio 047 048
Ensino Superior 055 056
De 26 a 35 anos 1º Ciclo EF 063 064
2º Ciclo EF 071 072
Ensino Médio 079 080
Ensino Superior 087 088
De 36 a 55 anos 1º Ciclo EF 095 096
2º Ciclo EF 103 104
Ensino Médio 111 112
Ensino Superior 119 120
Superior a 55 anos 1º Ciclo EF 127 128
2º Ciclo EF 135 136
Ensino Médio 143 144
Ensino Superior 151 152

Fonte: elaboração própria, com base em Gonçalves (2019, p. 286).

As variáveis linguísticas consideradas foram: (i) tempo verbal; (ii) -s final da desinência /mos/; (iii) assertividade da sentença; (iv) realização de sujeito; e (v) elemento temporal, descritas mais detalhadamente a seguir.

Em relação ao tempo verbal, foram investigados os fatores presente, como em e agora levamo(s) as fi::lhas né? [BDI-AC-064-NE:L.18],8 e pretérito, como em e aí depois no/ nós (nos) batiza::mo(s) [BDI-AC-064-NE:L.17].

Quanto ao -s final da desinência /mos/, foi observado seu apagamento, como em escutamoØ [BDI-AC-031-NR:L.62, grifo nosso], ou sua manutenção, como em brigamos [BDI-AC-047-NE:L.125, grifo nosso].

No que tange à assertividade da sentença, verificou-se se esta era afirmativa, como em então... casamos nove horas da noite... na igreja da Redentora...[BDI-AC-112-NE:L.76], ou negativa, como em num viajamos porque num tinha condições né? [BDI-AC-112-NE:L.82-83, grifo nosso].

Também averiguou-se a realização do sujeito, podendo este ser explícito, como em essa casa… quando nós compramo(s)… [BDI-AC-119-DE:L.140, grifo nosso], ou nulo, como em ela morava aqui na rua::... a:: São Bento né?... e:: Ø chegamo(s) lá:: e tal [BDI-AC-127-NE:L.21, grifo nosso].

Por fim, no que diz respeito ao elemento temporal, foi analisada sua presença, como em que nós já passamo(s) naquela época né? [BDI-AC-144-RO:L.722, grifo nosso], ou ausência, como em nós moramo(s) no dois Ø [BDI-AC-136-DE:L.139, grifo nosso].

A metodologia utilizada foi a quantitativa de descrição de Labov (2008 [1972]), que segue os seguintes passos (Tarallo, 2003): seleção da amostra (as 32 entrevistas do banco de dados Iboruna); descrição da variável estudada; análise dos fatores linguísticos e extralinguísticos que favorecem o surgimento da variante; levantamento de dados (feito a partir da análise de oitiva das entrevistas); rodadas estatísticas –neste trabalho, foi utilizado o programa estatístico Goldvarb-X (Sankoff; Tagliamonte; Smith, 2024 [2005])–; e, por fim, a análise dos dados levantados, apresentada na próxima seção.

4. Análise dos dados

Como mencionado, por meio do programa Goldvarb-X, foi feita a rodada estatística dos dados. Nos 32 inquéritos, correspondentes a 16 horas, 47 minutos e 44 segundos, foi obtido um total de 130 ocorrências do verbo conjugado na P4 no modo indicativo. Dessas ocorrências, cinco apresentaram a variante [ẽ], conforme tabela 1:

Tabela 1

Ocorrências de [ẽ]

Vocábulo Ocorrências
And[ẽ]mos 1
Cheg[ẽ]mos 2
Levant[ẽ]mos 1
Peg[ẽ]mos 1

Fonte: elaboração própria.

Esses cinco dados estavam presentes nos seguintes contextos:

(4) ele foi e foi... andemo(s) uns:: vinte pé e o menino pegô(u) e falô(u) [BDI-AC-063-NE:L.345, grifo nosso]9

(5) fui lá... a S. foi junto... e eu e ela... cheguemo(s) lá... colocô:: [BDI-AC-063-NE:L.341-342, grifo nosso]

(6) aí nos voltô(u) pa:: trás aí meu tio foi com nós cheguemo(s) [BDI-AC-063-NR:L.603, grifo nosso]

(7) embolô(u) em cima de mim... e nós caiu po chão levantemo(s) e em vez de chegá(r) [até em casa] nós voltô(u) pra trás [BDI-AC-063-NR:L.599-600, grifo nosso]

(8) pegamo(s) e descemo(s) aqui pra ba(i)xo... ela morava aqui na rua::... a:: São Bento né?... [BDI-AC-127-NE:L.20-21, grifo nosso]

Três desses quatro itens lexicais aparecem também no córpus sem a aplicação do fenômeno, ou seja, com a manutenção da vogal [ə̃], como nos seguintes exemplos:

(9) eu lembro perfeitamente como se fosse hoje... da praia da/ do mar::... e a areia assim também que nós... andamos [BDI-AC-064-DE:L.92-93, grifo nosso]

(10) aí a gente foi no convênio... chegamos no convênio tal eu desespera::do… [BDI-AC-055-NE:L.48-49, grifo nosso]

(11) pa... viajá(r) no dia seguinte... então no dia seguinte... pegamos o ô::nibus tu::do nós fomos pra São Paulo [BDI-AC-087-NE:L.12-13, grifo nosso]

As cinco ocorrências presentes na tabela 1 representam uma porcentagem de 3,8% dos dados totais, como mostra a tabela 2.

Tabela 2

Ocorrências gerais

Ocorrências Porcentagens
Aplicação 5 3,8%
Não aplicação 125 96,2%
Total 130 100%

Fonte: elaboração própria.

Como demonstrado na tabela 2, houve uma baixa produtividade de dados, a qual pode ser explicada pela utilização mais frequente da variante a gente para contextos de P4. Os seguintes exemplos retirados do córpus de pesquisa ilustram a afirmação:

(12) ele levô(u) eu pra casa da mãe dele e a gente ficô(u) moran(d)o lá [BDI-AC-032-NE:L.48-49, grifo nosso]

(13) esperei UM ANO pra ficá(r) com ele... mas aí a gente... ficô(u) junto né?... [BDI-AC-056-NE:L.5-6, grifo nosso]

(14) [...] aí quando foi no dia... a gente combinô(u) de encontrá(r) lá na praça e tal daí encontramo(s) lá… [BDI-AC-127-NE:L.17-18, grifo nosso]

O falante, ao fazer uso dessa variante, acaba inviabilizando o contexto necessário para a ocorrência da variação estudada, pois o verbo em concordância com a forma a gente tende a ser conjugado na terceira pessoa do singular.

Partindo para os resultados obtidos com a análise das variáveis extralinguísticas, com o sexo/gênero, foi possível confirmar a hipótese inicial de que as ocorrências com aplicação seriam menos recorrentes na fala das mulheres. Como mostra a Tabela 3, as mulheres não obtiveram nenhuma aplicação do fenômeno e as ocorrências com aplicação ficaram todas restritas à fala dos homens.

Tabela 3

Ocorrências em relação ao sexo/gênero

Ocorrências com aplicação Ocorrências gerais Porcentagens
Feminino 0 44 0%
Masculino 5 86 5,8%
Total 5 130 3,8%

Fonte: elaboração própria.

Este já era um comportamento esperado, pois, conforme apontado anteriormente, Labov (2008 [1972]) afirma que as mulheres têm a tendência de se aterem às formas mais prestigiadas da língua por conta da dificuldade de conquistar determinados espaços sociais tidos como masculinos.

Quanto à faixa etária, a baixa produtividade de dados não possibilitou confirmar com precisão a hipótese inicial de se tratar de uma variação estável. Como mostra a tabela 4, os resultados indicam quatro ocorrências para a faixa etária de 26 a 35 anos e 1 ocorrência para a faixa etária superior a 55 anos.

Tabela 4

Ocorrências em relação à faixa etária

Ocorrências com aplicação Ocorrências gerais Porcentagens
De 16 a 25 anos 0 9 0%
De 26 a 35 anos 4 41 9,8%
De 36 a 55 anos 0 52 0%
Superior a 55 anos 1 28 3,6%
Total 5 130 3,8%

Fonte: elaboração própria.

Em relação à escolaridade, os resultados apontam indícios de influência dessa variável para a aplicação. As ocorrências com aplicação ficaram todas restritas ao 1º ciclo do Ensino Fundamental, como demonstra a tabela 5, confirmando a hipótese inicial de que o fenômeno seria mais comum em fala de pessoas menos escolarizadas, indicando estigma social, pois indivíduos com maior nível de escolaridade tendem a se aproximar das formas prescritas, justamente por estas terem maior prestígio social.

Tabela 5

Ocorrências em relação à escolaridade

Ocorrências com aplicação Ocorrências gerais Porcentagens
1º ciclo E.F. 5 32 15,6%
2º ciclo E.F. 0 11 0%
Ensino Médio 0 26 0%
Ensino Superior 0 61 0%
Total 5 130 3,8%

Fonte: elaboração própria.

Parte-se, agora, para os resultados relativos às variáveis independentes linguísticas.

A variável tempo verbal parece mostrar influência na ocorrência da variação, conforme esperado inicialmente. Todas as aplicações da forma com [ẽ] se restringiram a contextos de pretérito, como indicado na Tabela 6. Esse comportamento, como já dito, pode ser explicado pela necessidade de distinguir pretérito perfeito e presente, pois apresentam a mesma estrutura no modo indicativo.

Tabela 6

Ocorrências em relação ao tempo verbal

Ocorrências com aplicação Ocorrências gerais Porcentagens
Pretérito perfeito 5 119 4,2%
Presente 0 11 0%
Total 5 130 3,8%

Fonte: elaboração própria.

Como demonstra a tabela 7, em relação ao tipo de sujeito, três ocorrências obtiveram aplicação em contexto de sujeito nulo, como em ele foi e foi… andemo(s) [BDI-AC-063-NE:L.345, grifo nosso], e duas em contexto de sujeito explícito na sentença, como em nós caiu po chão levantemo(s) [BDI-AC-063-NR:L.599, grifo nosso].

Por conta de certa distribuição dos dados em ambos os contextos, essa variável, a princípio, não aparenta ser determinante para a variação morfofonológica na variedade analisada.

Tabela 7

Ocorrências em relação à realização do sujeito

Ocorrências com aplicação Ocorrências gerais Porcentagens
Nulo 3 71 4,2%
Explícito 2 59 3,4%
Total 5 130 3,8%

Fonte: elaboração própria.

A variável -s final da desinência /mos/ trata da análise da ausência ou presença do -s final, ou seja, se o -s é apagado ou não apagado no verbo, como, respectivamente, nos exemplos:

(15) nós paramo(s) em:: Campo Grande… e a moça da secreta/ da... da regional lá num conseguia… justamente achá(r) a passagem [BDI-AC-119-NE:L.15-16, grifo nosso]

(16) então foi onde a prime(i)ra vez a gente/ nós brigamos feio... foi cada um pum canto [BDI-AC-047-DE:L.124-125, grifo nosso]

Os resultados da forma não canônica ficaram restritos a contextos em que o -s final é apagado, como consta na Tabela 8. Os resultados obtidos por meio dessa variável se assemelham aos da pesquisa de Pereira (2014) na variedade de Florianópolis. Nesse estudo, esse grupo de fatores é apontado como determinante para a ocorrência da forma menos canonizada, uma vez que está atrelado aos usos de formas menos prestigiadas.

Tabela 8

Ocorrências em relação ao apagamento do -s na DNP /mos/

Ocorrências com aplicação Ocorrências gerais Porcentagens
Apagado 5 82 6,1%
Não Apagado 0 48 0%
Total 5 130 3,8%

Fonte: elaboração própria.

Com relação à assertividade da sentença, as cinco ocorrências com aplicação foram constatadas em sentenças afirmativas. Dada a distribuição das ocorrências gerais, com apenas 4 ocorrências totais em sentenças negativas, não se pode afirmar contundentemente a influência dessa variável para a aplicação do fenômeno.

Tabela 9

Ocorrência com relação à assertividade

Ocorrências com aplicação Ocorrências gerais Porcentagens
Positivo 5 126 4,0%
Negativo 0 4 0%
Total 5 130 3,8%

Fonte: elaboração própria.

Por fim, no que tange à presença ou não de elemento temporal na sentença, todas as aplicações se deram em sentenças em que o elemento temporal não estava explícito, como exibido na Tabela 10.

Isso pode ser um fator determinante, pois, como há a ausência de um marcador temporal, o falante se utiliza da variação de [ə̃] para [ẽ] para demarcar oralmente o passado. Da mesma forma, a presença de elemento temporal na sentença pode inibir a necessidade da demarcação do pretérito perfeito por meio da variante [ẽ], fazendo com o informante mantenha a forma [ə̃], como ocorre nos seguintes exemplos:

(17) porque de repente esse homem vai montá(r) uma ditadura aí que nós já passamo(s) naquela época né?... [BDI-AC-144-RO:L.721-722, grifo nosso]

(18) então no dia seguinte... pegamos o ô::nibus tu::do nós fomos pra São Paulo [BDI-AC-087-NE:L.13, grifos nossos]

Tabela 10

Ocorrências em relação ao elemento temporal

Ocorrências com aplicação Ocorrências gerais Porcentagens
Ausente 5 112 4,3%
Presente 0 13 0%
Total 5 130 3,8%

Fonte: elaboração própria.

Assim, as variáveis relevantes encontradas foram: sexo/gênero, sendo a ocorrência mais frequente na fala de homens; escolaridade, com maior ocorrência na fala de indivíduos de escolaridade mais baixa; tempo verbal, sendo que a forma inovadora ocorre exclusivamente no pretérito perfeito; ausência de outros marcadores temporais na sentença; e a ausência de -s final, que também coocorre com a aplicação em todos os dados obtidos.

5. Discussão dos resultados

A baixa produtividade (3,8%) do fenômeno pode ser explicada pelo uso frequente da forma a gente em detrimento do uso do verbo na P4, fazendo com que o contexto necessário para o surgimento do fenômeno não ocorra, uma vez que a primeira forma costuma propiciar a utilização de forma verbal diferente da estudada. Na variedade analisada, o fenômeno tende a ter maior ocorrência na fala dos homens, dando indícios de que as mulheres ainda sentem maior necessidade de monitoração dos modos como se comunicam. A variante [ẽ] apresenta indícios de estigma social também por ter tido maior ocorrência na fala de pessoas com o nível de escolaridade mais baixo. Ademais, o uso da variante [ẽ] demonstra demarcar diferença entre pretérito e presente, o que justificaria ter maior ocorrência nas formas para pretérito e em contextos de ausência de elemento temporal, como apontaram os resultados.

Comparando esta pesquisa com as de outras variedades do PB, é possível perceber que todas caracterizam o processo variável como tendo mais traços rurais do que urbanos, sendo característico de regiões mais interioranas. Sobre a influência do fator apagamento do -s final da desinência, Costa (1990), ao considerar as variantes -amos ~ -amo ~ -emo e não considerar formas com -emos, compreende que a variante com /e/ ocorre em conjunto com o apagamento do -s final da DNP, como um traço característico da variedade falada na região. Pereira, Lehmkuhl-Coelho e Loregian-Penkal (2016) também consideram que o fator apagamento do -s não seja um fator condicionante, mas sim um traço comum na fala e na escrita rural. Em contrapartida, tanto esta pesquisa, quanto Pereira (2014) e Zilles, Maya e Silva (2000) encontram o apagamento do -s final da DNP como um fator determinante para a produção da variante não-canônica.

Com relação à variável tempo verbal, Costa (1990) observou que a forma inovadora ocorreu em 90,3% dos casos de pretérito perfeito e em 79,4% dos casos de presente do indicativo e Pereira (2014) observou que essa forma ocorreu em 45% da ocorrências de pretérito e em 36% das ocorrências de presente. Ambas as pesquisas apontam para a influência do verbo conjugado no pretérito para a produção da variante não-canônica, apesar de também ocorrer no presente. Os resultados dessas pesquisas, assim como os resultados da presente investigação, podem confirmar a hipótese do uso da alternância como estratégia para demarcar a diferença entre pretérito e presente.

Ademais, como todas as variedades analisadas colocam essa variação como característica da fala rural, e também tanto o presente trabalho quanto o Pereira (2014) observarem ser comum a variante não canônica no falar de pessoas menos escolarizadas, essa variante apresenta indícios de sofrer estigma social em diferentes variedades do PB.

6. Conclusões

Este trabalho analisou a alternância morfofonológica em P4 de verbos regulares de primeira conjugação do modo indicativo na variedade do interior paulista, fundamentado teórico-metodologicamente na Teoria da Variação e Mudança Linguística (Labov, 2008 [1972]) e considerando as variáveis (i) sexo/gênero; (ii) faixa etária; (iii) escolaridade; (iv) tempo verbal; (v) apagamento do -s final da DNP /mos/; (vi) assertividade da sentença; (vii) realização de sujeito; e (viii) presença de elemento temporal.

Em relação às hipóteses iniciais, a maioria parece ser confirmada ao final da pesquisa, exceto a hipótese acerca da variável faixa etária, já que não foi possível confirmar se esta demonstra que se trata de um caso de variação estável ou mudança em progresso, devido à baixa produtividade dos dados. Quanto ao estigma social em relação ao processo, essa hipótese inicial parece ser confirmada, já que a forma não padrão ocorre apenas em falares masculinos e menos escolarizados, isto é, o primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Por outro lado, em relação às variáveis linguísticas, inicialmente a hipótese era a de que o tempo verbal exerceria influência para a ocorrência da variação, mas, com a análise dos dados, em consonância inclusive com trabalhos sobre outras variedades do PB (Pereira, 2014), foi possível notar que, além do tempo verbal, as variáveis presença ou não de elemento temporal e apagamento do -s final da DNP /mos/ também podem influenciar o uso da forma menos canonizada, ou seja, [ẽ].

Comparando os resultados obtidos nesta pesquisa com outros trabalhos do mesmo tema em outras variedades do PB (Pereira, 2014; Pereira; Margotti, 2018; Pereira; Lehmkuhl-Coelho, Loregian-Penkal, 2016; Zilles; Maya; Silva, 2000), pode-se perceber semelhanças, visto que apresentam baixa produtividade dos dados e os fatores linguísticos influentes demonstram ter comportamentos relativamente similares. Em um primeiro momento, a variação morfofonológica estudada parece ter as características determinantes semelhantes a outras variedades do PB, aproximando a variedade do noroeste paulista a outras regiões já descritas no que tange ao fenômeno.

Como lacunas deixadas para serem preenchidas por trabalhos futuros, tem-se a investigação de um maior número de inquéritos. Apesar de esta pesquisa ter analisado 32 entrevistas, correspondentes a mais de 16 horas de gravações, a relativamente baixa produtividade desse contexto linguístico permitiu a obtenção de apenas 130 ocorrências, das quais 3,8% apresentam a variante [ẽ]. De qualquer modo, os resultados desta pesquisa fornecem indícios dos fatores linguísticos e extralinguísticos que condicionam o fenômeno e, consequentemente, espera-se que possam contribuir para o mapeamento sociolinguístico dessa variedade, bem como para a descrição mais geral da variação morfofonológica da P4 em verbos regulares do modo indicativo no PB.

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Rúbio, Cássio Florêncio; Gonçalves, Sebastião Carlos Leite. (2012). A fala do interior paulista no cenário da sociolinguística brasileira: panorama da concordância verbal e da alternância pronominal. Alfa: Revista de Linguística, 56(3), 1003-1034. https://doi.org/10.1590/S1981-57942012000300012

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*Brenda Soares Rezende é mestranda com bolsa CAPES do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPGEL) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Graduada em Letras – Português/Inglês – pela UEPG. Seu papel neste artigo: Conceitualização, Curadoria de dados, Redação - Análise formal, Metodologia, Rascunho original.

**Márcia Cristina do Carmo é Professora adjunta vinculada ao Departamento de Estudos da Linguagem (DEEL) e ao Programa de Pós-Graduação (PPGEL) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Licenciada em Letras – Português/Inglês – pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Ibilce), mestre e doutora em Estudos Linguísticos pela mesma instituição, com estágio sanduíche na Newcastle University e pós-doutorado pela University College London (UCL). Seu papel neste artigo: Conceituação, Supervisão, Escrita - revisão e edição.

***Álvaro Kasuaki Fujihara é Professor adjunto vinculado ao Departamento de Estudos da Linguagem (DEEL) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Graduado em Letras – Português/Latim – pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre e doutor em Letras pela mesma instituição, com estágio sanduíche na Universidade de Tel Aviv. Seu papel neste artigo: Supervisão, Escrita - revisão e edição.


  1. Conduzida na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), com bolsa PIBIC concedida pela Fundação Araucária (edital PROPESP/UEPG n. 65/2020). Seus resultados propiciaram a realização de uma pesquisa de Mestrado, atualmente em andamento, conduzida pela primeira autora, sob a orientação da segunda, junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPGEL/UEPG), com bolsa CAPES (88887.884690/2023-00).↩︎

  2. Segundo Battisti (2014, p. 58), a vogal baixa anterior, ao sofrer nasalização, sofre também elevação e centralização, “passando de vogal baixa ao fone vocálico médio central conhecido por schwa na literatura especializada e simbolizado por [ə̃]”. De acordo com a autora, portanto, não há vogal baixa nasal ou nasalizada *[ã] na língua portuguesa.↩︎

  3. Do original: “Sociolinguistics, then, is that part of linguistics which is concerned with language as a social and cultural phenomenon. It investigates the field of language and society and has close connections with the social sciences, especially social psychology, anthropology, human geography, and sociology”.↩︎

  4. Do original: “Apparent-time studies have the inestimable advantage of making information about temporal developments available in a shorter time than the developments themselves take. The inferences are generally reliable [...]. Because they are not arrived at by direct observation, however, those inferences depend upon the validity of a particular hypothesis, namely, that the linguistic usage of a certain age group will remain essentially the same for that group as they grow older”.↩︎

  5. Acerca do SNP, Câmara Júnior (2002 [1971]) afirma compreender a oposição entre falante e ouvinte, bem como entre eles e uma terceira pessoa, no singular e no plural. Decorrem dessas relações seis pessoas, sendo três do singular e três do plural.↩︎

  6. Com exceção do pretérito perfeito do indicativo para P6, que é -ra, como em cantaram (Câmara Júnior, 2002 [1971]).↩︎

  7. Sobre P4, Câmara Júnior (2002 [1971], p. 68) destaca ser o morfema /mos/ “[…] facilmente destacável se compararmos cantáramos com cantaras e cantara. O elemento /mos/ é o morfema da primeira pessoa do plural (P4)”, como em cantáramos, temêramos e partíramos.↩︎

  8. A formatação dos exemplos segue as normas - presentes em no site ALIP (ALIP, s/d) - das ocorrências extraídas do banco de dados Iboruna (BDI), especificamente da Amostra Censo (AC), em que constam o número do inquérito, a identificação do tipo de texto (NE, NR, RO, RP e DE) e a identificação da linha (L.).↩︎

  9. Este artigo exibe as ocorrências conforme aparecem nas transcrições ortográficas do banco de dados Iboruna. Como já relatado, a realização ou não do fenômeno foi investigada por meio de análise de oitiva, independentemente de o arquivo de transcrição ortográfica apresentar o dado finalizado com -amos ou -emos.↩︎